Codinome Orquídea - Parte 4

quarta-feira, 28 de maio de 2008


Patrícia não esperou Lucas acordar para se despedir, ao invés disso, colocou novamente seu vestido que estava caído no chão e arrumou seus cabelos. Parou por alguns minutos para ver aquele rosto ainda de menino, no entanto com corpo já de adulto. E foi embora sem deixar recado enquanto ele dormia.
Na rua, enquanto andava, sentia-se observada. Caminhava e olhava para trás com continuidade. Decidiu acelerar o passo. Já anoitecera e sabia que os militantes estavam pelas ruas, às vezes disfarçados de pessoas comuns. Teve medo quando pensou que poderiam saber quem ela era, e de onde estava vindo. Temeu ter de voltar, então continuou.

- Venha comigo. Sem fazer nenhum barulho. – Patrícia virou-se, e em sua frente havia um homem grande, com expressão furiosa.
- Não conheço o senhor.
- Eu sou o pai do garoto com quem você acaba de dormir. – Patrícia olhou com perplexidade e seu coração havia disparado.
- Ah meu Deus. Você é do governo! – Agora sentia que devia estar desmaiando.

O Militante a colocou dentro de um carro na parte de trás. Sentou em frente ao volante e a levou para o quartel onde havia passado a noite. Enquanto passava pelo pátio do quartel, Patrícia viu aquele que devia ser Buarque. Ele, porém, estava fazendo o caminho contrário. Os dois olharam-se por um instante, e ela soube que eles já sabiam de tudo.
Levada para uma sala pequena, Patrícia manteve a calma. Entretanto não sabia o que pensar. Quem havia dedurado? Um dia antes, eles não sabiam quem eles eram, hoje já havia prendido dois deles. Será Lucas? Que estava a seduzindo para conseguir informações e assim ajudar seu pai? Mas como explicar o livro em sua prateleira?

- Senhora Patrícia! – Exclamou o mesmo General da noite anterior.
- Lembro que o senhor disse que não matava ninguém. Nem você, nem o seu governo.
- Ah... Desculpe. Eu menti.
- O que quer?
- Sabemos que irão ao protesto de frente do Ministério hoje ás dezesseis horas. O que pode me ajudar com isso senhora Patrícia?
- Eu não sei de nada.
- Soldado! Jogue água sobre ela. – Patrícia não falou nada, apenas deixou a água suja cair sobre seu corpo preso na cadeira, deixando suas roupas ficarem coladas ao seu corpo.
- Sabemos também, que anda com um garoto do colégio Vinícius de Moraes, pretende colocar a prole estudante no protesto professora?
- Não.
- Soldado. – O soldado começou a dar murros no rosto de Patrícia com violência. Esta, não se movia, e esperava pelo próximo golpe, como uma antecipação de sua morte. O sangue de sua boca e seu nariz já escorria para seu pescoço e continuamente para sua blusa.
- Pare...Senhora Patrícia entenda algo...A sociedade em que vivemos é hipócrita. Seu rosto vai parecer amanhã nos jornais, as pessoas vão ter pena do seu terrível e súbito ataque do coração, e logo no dia seguinte já esqueceram de você, é por eles que você luta? Por esta sociedade brasileira hipócrita e esquecida?
- Essa sociedade General é feita por pessoas como você. Não é por isso que eu luto.
- Hum. Que curioso. E pelo que luta então?
- General, posso ficar com ela um tempo? – Perguntou o Militante, pai de Lucas, na porta do interrogatório.
- Claro. Divirta-se Capitão, ela é toda sua. Não vai sair daqui mesmo.
Patrícia não sabia o que fazer. Estava atada a cadeira e não poderia gritar.
- Por que colocou meu filho nisto sua vadia?! – Perguntou furioso assim que o General havia saído da sala.
- Sabia que tinha algo errado...- Susurrou para si mesma.
- Sabia, sua vadia, que meu filho não foi quem dedurou todos vocês. – Patrícia o mirou bem nos olhos, seu sangue ainda escorrendo pelo seu corpo. – Você é uma puta, que não consegue segurar o desejo, e se ofereceu para meu filho! Ele só tem 17 anos! Comunista desgraçada! – Bateu em seu rosto. – Ele agora está com esta loucura de Comunismo na cabeça, sabe o quanto eu ando trabalhando nesse quartel imundo para meu filho não ser capturado e levado para a guerra?! Eu só estou nesse quartel para que ele não seja levado, e você o transformou em um comunista idiota!
- Não faça nada contra ele. – Patrícia usava brincos, que nesse momento foram cruelmente arrancados de suas orelhas, para que sentisse dor. Gritou profundamente.
- Até que...Meu filho tem bom gosto... – Agora lhe tocava o ombro, sua roupa molhada estava colada em seu corpo e mostrava a mulher que era. – Por que não come um cara do teu tamanho?
- Você me dá nojo.
- Vamos ver quem tem nojo aqui.

O Capitão a tirou da cadeira e mandou o soldado sair da sala. Ordenou que tirasse sua roupa e então a violentou. Enquanto o fazia, lágrimas corriam do rosto de Patrícia, ora por sentir dor da força com que o Capitão a possuía, ora por temer a morte, ora por se lembrar de Lucas.

- Espero que fique aqui neste quartel até o fim da guerra. Irei me aproveitar disso. E é bom ficar calada sobre isso, ou vai sofrer as conseqüências.

Patrícia permaneceu deitada sobre o chão e virou-se de lado. E assim dormiu a noite inteira. Vigiada, sem qualquer tipo de conforto ou atenção.

No dia seguinte, Lucas estava feliz. Como poucas vezes em que esteve. Não tinha aulas com Patrícia, mas apenas em lembrar o quanto bom foi a noite passada que já o deixava rindo sozinho.
Durante a aula de Física, na qual ele nem sabe qual o assunto estava sendo dado, uma garota de cabelos loiros colocou sua cabeça para dentro da sala na porta, procurando por Lucas.

- Lucas, o diretor disse que quer vê-lo agora.
- O diretor? – Lucas temia saber qual o assunto.
- Sim, e disse que é para ser agora.
- Com sua licença professor.

Lucas estava nervoso. O que o diretor podia querer com ele? Será que descobrira sua relação com a professora Patrícia? E se fosse, o que ele iria fazer? E seus pais? Ou será que pior, sabiam que ele era comunista? Que o protesto não deu certo e agora estão indo atrás de todos aqueles que são a favor?
Com o coração a mil, bateu na porta que tinha escrito “diretor” e esperou que uma voz grave o chamasse para dentro.

- Pode entrar. – Respondeu o homem lá de dentro.

Lucas agora estava realmente nervoso. Acabara de ver, sentada em uma das cadeiras, em frente à mesa do diretor, Patrícia que se sentia angustiada. Ela estava com o rosto marcado por murros, completamente roxo. Sua boca estava com cortes, suas pernas, ele percebeu, também estavam roxas. Lucas entrou em fúria, não sabia o que pensar, apenas sentiu fúria por ver que haviam feito algo de mal com ela.

- Sente-se aqui filho. – Indicou uma cadeira ao lado de Patrícia. Eles dois se olhavam espantados.
- O que está havendo? – Perguntou o diretor quase que instantaneamente. Patrícia estava corada e suas mãos tremiam.
- Do que está falando diretor? – Lucas agora se mostrava nervoso.
- Um aluno, não direi nomes, viu vocês dois, aluno e professora, aos beijos na sala de aula na ultima aula de Inglês na semana passada. O que pode me dizer sobre isso senhorita Patrícia? – O diretor se dirigia a ela, quase que a responsabilizando pelo que havia ocorrido.
- Eu... Diretor - Gaguejou.
- A culpa é minha, Diretor. – Patrícia arregalou os olhos para Lucas que não a olhou. Fitava o diretor com coragem.
- O que disse? – O diretor tinha a cara mais repugnante impossível.
- A culpa é toda minha, fui eu quem beijou a professora Patrícia a força. – Falou tão rápido que se não tivesse prestando muita atenção o diretor não entenderia.
- Quer ser expulso da escola menino? Eu sei que anda distribuindo cartazes antiamericanos, ou achava que eu não iria descobrir?
- Se o senhor achar que é o justo a fazer... – Lucas sabia que qualquer palavra do diretor, ele seria preso, ou até pior, morto.
- É inadimisível que um aluno e um professor possam ter algum tipo de relação amorosa, e sei que o senhor sabe muito bem disso, porque o fez?
- Já disse que Patrícia...Professora Patrícia, não tem nada a ver com isso, tudo o que quiser fazer contra ela, faça contra mim.
- Não Lucas! Pare com isso... O que houve tanto eu quanto você somos culpados. – Patrícia agora interrompia a conversa pergunta-resposta que o diretor e Lucas haviam feito. – Diretor... Está correto, mereço ser despedida, Lucas não tem culpa, o que aconteceu foi porque não conseguimos mais controlar nossos desejos... – Tremia – saio da escola agora mesmo se quiser.
- Muito bonito tudo que disse Patrícia, mas, seria despedida mesmo que não tivesse dito uma só palavra. O que acha que os pais dos alunos vão pensar quando souberem disso tudo? Dois comunistas na minha escola! Que vergonha! Debaixo do meu nariz! Sabem que Comunismo no Brasil está proibido desde 2012 quando a guerra terminou, tem gente sendo presa, morta, estuprada, todos os dias! Metade da população entrou para o exército para não serem mortos e vocês me fazem uma coisa dessas! – Elevou sua voz. O diretor estava muito nervoso. – Como vai ficar o nome da nossa escola professora Patrícia?! Sinto muito, mas está despedida a partir de agora.
- Não pode fazer isso! – Lucas se levantou da cadeira e estava vermelho de raiva.
- Não posso? – Falou calmamente.
- Patrícia é uma boa professora de Inglês, fez a média de todos os alunos subirem, é dedicada, simpática e carismática. Todos os alunos gostam dela, alem do que, prefiro que me expulse da escola a despedi-la. O fato de sermos comunistas não vai sair daqui, eu juro. Vai ter o nome da sua escola preservado, eu garanto!
- Lucas, por favor... – Patrícia chorava. – Diretor, vou agora mesmo organizar minhas coisas e partirei. Desculpe-me pelo alarmante que provoquei em sua escola.
- Patrícia...Espero que tenha sorte. – Disse o diretor agora triste. – Sempre foi uma boa professora, e se não fosse esta ditadura em que vivemos, tenha certeza que seria perdoada de tudo. Mas não é só a minha vida que está em risco. Sabe que se continuar aqui pode levar todos nós à forca.
- Patrícia... – Lucas tentou ir atrás dela, mas ela já tinha deixado a sala. Muito irritado e com seu rosto vermelho, virou-se para o diretor – Não vai mudar o que eu sinto por ela com isso! Nem vai nos impedir de mudarmos este país!
- Não pretendo. Mas não posso arriscar o nome da minha escola.
- Vai perder muito mais em tê-la despedido.
- Desculpe-me Lucas.

Lucas saiu em disparada procurando por Patrícia, conseguia ver que as pessoas estavam aos cochichos, já devem saber do que aconteceu. Procurou Patrícia por todos os lados, e não a achou. Decidiu então ir a sua sala, pegar seu material e voltar para casa para liga-la, sabia que não poderia ir na casa dela, pois, muitos alunos iriam vê-lo, agora que sabiam de tudo.

- Lucas, o que houve? Porque esta chorando? – Perguntou a mesma menina de cabelos loiros.
- Nada.
- Lucas, é verdade o que dizem? – Perguntou um garoto que sentava atrás de sua banca. Lucas arrumava suas coisas dentro da bolsa com muita rapidez.
- E o que dizem Rodrigo? Você pode me dizer? – Disse irritado.
- Que você e a professora Patrícia tem um caso, que ela foi despedida e você expulso.
- Sim é verdade. – Todos arregalaram os olhos.

Lucas saiu como um louco por entre a multidão de pessoas que saiam de suas salas para verem o que tinha acontecido. À essa hora, todos do colégio sabiam que ele e Patrícia tinham um caso. Faltava muito pouco para que seus pais soubessem. E muito pouco para que fossem pegos.
Parou de frente a porta de sua casa. Será que seus pais já sabiam?
Graças a deus, ninguém em casa outra vez, pensou Lucas. Correu para o telefone e ligava constantemente para Patrícia. Depois da décima tentativa, ela atendeu.

- Alô? – Voz mais fraca que nunca.
- Patrícia? Meu amor, que bom que atendeu, estava nervoso pensando que tivesse acontecido algo... – Lucas chorava.
- Lucas...Não podemos mais continuar com isso, está errado, vamos perder muito ainda – Soluçava – Não quero que sofra mais, já viu no que isso deu?!
- Patrícia pare de se preocupar comigo! Serei muito mais infeliz se não a tiver do meu lado! Porcaria de Ditadura! Temos de fugir Patrícia, logo!
- Por favor, pare Lucas... – Chorava.
- Eu tenho algum dinheiro guardado na minha poupança, podemos ir juntos para a Venezuela, lá eles estão ao nosso favor. Por favor, Patrícia, temos de ir hoje!
- Eles não vão entender Lucas! Será que não consegue ver? Vão nos buscar até no inferno!
- Patrícia eu quero você e só você. Eu posso fugir dessa com vida porque ainda não sou maior de idade e meu pai é da milícia. – Patrícia havia soltado um grunhido. - Mas você não! Por favor, temos de ir!
- Não me faça sofrer mais. Por favor. – Chorou.
- Eu vou sofrer muito mais se eu não tiver você! ....“ Lucas onde está você?!” – Os pais de Lucas haviam chegado em casa e pareciam furiosos, seu pai já estava na porta de seu quarto.

O seu pai, sem pensar, entrou no quarto furioso e deu um soco na cara de Lucas que o fez cair na cama e o telefone cair longe ainda ligado.

- O que pensa que você é menino?! - O pai estava furioso o bastante para quem chegasse perto levasse um murro também. Ele o segurava pela camisa.
- Roberto, por favor, seja mais leve com ele! – A Mãe sentia pena de seu filho, mas não podia fazer nada com a reação do pai.
- Que história é essa Lucas?! O diretor acabou de me ligar dizendo que você foi expulso da escola por se envolver com uma professora Comunista!
- É verdade Pai.
- O QUE?!
- Eu estou apaixonado por ela, não pode me impedir! – Gritava Lucas agora que estava livre das mãos do pai. Roberto estava chocado ao ouvir a confirmação. – E eu já sei que você sabe de nós dois, pare de se fazer de desentendido!
- Você é um irresponsável! Acha que permitirei isso?!
- Não pode mandar na minha vida. – Dizia Lucas compulsivamente.
- Hoje mesmo irei prender esta professora e mandar ela parar de dar em cima do meu filho, isso é um absurdo! Como ela pode fazer isso com meu filho, um aluno?!
- PAI EU A AMO! ELA NÃO ME SEDUZIU! – Chorava e gritava ao mesmo tempo.
- Você vai comigo ao colégio pedir a bolsa de volta. Não vai perder o ultimo ano do ensino médio por causa dessa professora que fez isso com você! – Ainda gritando.
- PAI! ME ESCUTA! – O agarrou pelos braços. – EU A AMO! A AMO!
- Mas que besteira que você diz! Como pode amar uma mulher bem mais velha que você? O que iram dizer? E ainda mais comunista? Quer ir preso menino? Eu não vou poder fazer nada se te pegarem! O que a nossa família vai dizer sobre isso?!
- Eu não acredito que estou ouvindo isso. – Disse perplexo.
- Diz o que ela fez com você! Até onde essa história chegou?
- Tudo o que fizemos você não tem o direito de saber.
- Você está merecendo levar um surra!
- Vai. Bate. – Dizia Lucas enfrentando o pai.
- Lucas não responda ao seu pai. – Dizia a mãe aflita.
- Vai, me bate. Bate por amar uma pessoa. – O pai conteve-se.
- Não voltará a vê-la. – Buscou dentre os livros, O Manifesto. Durante alguns segundos viu o livro ser queimado pelo isqueiro que segurava.
- Não vou fazer nada do que manda, não vai conseguir me deixar longe dela.
- Vai me desobedecer?!
- Eu só quero que entenda que o meu amor é como qualquer outro! Não posso ser julgado na rua por amar alguém!
- UMA MULHER MAIS VELHA QUE SE APROVEITOU DA SUA INOCÊNCIA! UMA OPOSITORA!
- EU-NÃO-SOU-MAIS-UM-GAROTO-DE-10-ANOS-DE-IDADE – Lucas disse entre os dentes.
- E O QUE PENSA QUE É?! MAL SAIU DAS FRALDAS!
- VAI ME BATE! PÕE PARA FORA ESSA RAIVA QUE TÁ DENTRO DE VOCÊ! PORQUE NADA VAI MUDAR O QUE EU SINTO POR ELA! NADA! EU A AMO E NINGUEM VAI ME IMPEDIR DE ESTAR COM ELA. – Lucas ia saindo do quarto quando seu pai o puxou pelo braço e lhe deu outro soco.
- Eu não criei um filho para cair perdido na vida! Muito menos ser morto dentro de quartéis... Você vai aprender a nunca mais responder a seu pai, e vai fazer o que estou mandando! NÃO VAI MAIS VER ESSA MULHER DE NOVO!
- Me larga! SOLTA! NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO!
- Está de castigo. E você Maria, não se atreva a deixa-lo sair desse quarto, vai ficar ai até eu dizer o contrário!

O pai de Lucas o trancou dentro do quarto e levou a chave. Seu rosto estava sangrando e sua camisa estava rasgada, lembrou-se de que o telefone continuava ligado e que Patrícia poderia ter escutado tudo.

- Patrícia?!
- Lucas, você está bem? Está sangrando? Oh meu deus, por favor, diz alguma coisa!
- Desculpe-me por isso Patrícia.
- Não tem de pedir desculpas! Ai meu deus não sei o que pensar, seu pai não pode fazer isso! Estamos perdidos, estamos sozinhos, quase todos foram presos, alguns estão mortos, Buarque foi exilado fora do Brasil. O que poderemos fazer? Eles estão conseguindo abafar com o protesto!
- Eu estou bem Patrícia, agora tem de sair daí. Por favor, saia, meu pai está indo para ai, estou vendo o carro dele saindo, vá, saia daí, tenho medo do que ele pode fazer com você! Por favor, ele é capaz de tudo, está furioso! Não posso deixar que volte para aquele lugar de novo! Ele pode te fazer muito mal Patrícia, ele espanca e estupra minha mãe! É um monstro!
– Já fez. – Silencio. Lucas sentara no chão para chorar. - Não posso fugir Lucas!
- Por favor! Ele vai te fazer algum mal! SAIA Daí!
- Não posso Lucas! Eu não vou fugir do meu país! Isso seria desistir!
- Patrícia pelo amor de Deus! – Já começara a chorar – Eu estou trancado aqui não posso fazer nada. Em menos de 2 minutos ele vai estar ai.
- Lucas, por favor, não chore... “Patrícia! Patrícia! Sei que está ai dentro, apareça!”

Ela desligou sem dizer nada. Lucas se desesperou. Correu para porta e gritava por sua mãe, batia com todas as forças que podia, gritava o máximo que podia. Espancava a porta como quem tem força de um leão. Chorava copiosamente e deixava o sangue em seu rosto cair sem interrupções.

- Mãe! Mãe, por favor, me tira daqui! Por favor, mãe... Ele vai fazer algo contra ela! Por favor, não o deixe bater nela como faz com você! Não o deixe prende-la, ele vai mata-la, está com fúria. Mãe me tira daqui!
- Lucas seu pai levou a chave! – Falou a mãe aflita do lado de fora.
- Mãe, vai até a garagem e pega um martelo para bater nessa maçaneta, por favor!
- Está certo.

Lucas podia sentir o seu coração chegar a boca, sabia que seu pai batia na sua mãe com freqüência, sempre fora esquentado. Sua mãe dizia que as marcas que ele via em seu corpo não eram nada, mas sabia que na calada da noite eles brigavam e ele a batia.
O Brasil estava acabado. Um país que sofrera por duas ditaduras militares, não agüentaria. E não agüentou, tanto que deixou os americanos entrarem em seu território. A presença de tantos americanos fez o partido comunista cresce e ganhar aliados pelo país inteiro. O Brasil, porém, aliado ao governo americano, suprimia as revoltas aonde quer que fosse, e dizia na televisão que todos que desapareciam era porque havia fugido do país, ou morria de morte súbita. Aqueles que viviam, iam para os Estados Unidos, outros, conseguiam pular a fronteira com a Venezuela, mas muito poucos conseguiam chegar do outro lado. Muitos outros enfim morriam, sozinhos em suas celas das prisões brasileiras.

- Afaste-se Lucas. – Falou a mãe do outro lado. Bateu com força na maçaneta que caiu direto no chão. Ela viu seu filho com sangue no rosto.
- Obrigada Mãe.

1 comentários:

Cássio disse...

Tô doido pra ler :D
mas se eu ler agora jek kill my self!
=**