Dia-a-dia

sábado, 19 de julho de 2008




Duas coisas que me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e freqüëntemente o pensamento dela se ocupa:o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim

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Dia-a-dia

Ah! Malditas formas importantíssimas!
A mão da noite afaga
a minha mente cansada
e já não me aguento mais
meter-me entre parágrafos!

Cansei-me do lirismo formal!
da hipocrisia mentirosa
da ganância descontrolada
dos capitalistas fervorosos!

Arre!
A televisão é conveniente à oligarquia
o medo é companheiro do povo
e aos ricos,
Restam-lhe o tédio do ócio!


Flávia Braga

Filhos - esquecidos - dessa terra de Deus.

terça-feira, 15 de julho de 2008


Nun pedaço de chão, pedacinho só ta bom? Que não tinha nada, nem vontade de ser terra, existia uma família. Familia não, ajuntamento. Esse ajuntamento, como se diz em minha cidade, era composto de um homem de 35 anos – com cabeça de 120, corpo de 200 e cara de nunca ter saído da cova – uma mulher que não vale a pena mencionar de tão subjulgada e feia que era (vale perguntar, feia para quem? Mas deixemos de lado que isso literatura nunca explicou, não vim aqui para mudar regra de nada, pois...) – 11 crianças, que têm tantos nomes e tantos mais apelidos que para minha mente velha e cansada recordar é uma Odisséia.
Pois bem, cheguei nesse pedacinho de chão seco, batido e sem vontade de ser terra para fazer uma pesquisa. O engraçado é notar, depois que voltei, que ver gente pobre não é ver outra espécie (mesmo que agente finja que acredita em palavras como igualdade, kkkk, é até piada né?).
Bem, aquela família que ali morava, que havia morado outra família com tantas outras crianças de se perder de vista, chegou naquela terra com as duas mãos atrás. Agua é igual que ouro nessa terra de coitados, semente só no dia 30 de fevereiro, justiça então, o que é isso? Lá tinha, como qualquer local humanamente habitável, um ser que tinha unhas claras e palavras postiças (melhor seria que tivesse unhas postiças e palavras claras, mas isso é só uma inversão de adjetivos não é mesmo?). Ficou combinado o seguinte: O coitado do homem trabalharia para o das Postiça por 8 horas diárias, salário mínimo, FGTS, enfim, tudo isso que a lei (lei ali?) dizia. Como não sabia o que tinha na lei, nem muito menos o que era uma lei, o Coitado aceitou, já que o um ser maior (a fome) gritava o “sim” por ele.
Faça as contas comigo leitor, por favor, não leia passivamente. Se numa cidade grande, com greves, passeatas, sindicatos e toda a parafernalha trabalhista, um garçom é lesado – digamos que ele trabalhe em um restaurante por 8h, se numa hora ele serve 10 mesas, e colocando uma taxa de 10% de cobrança de serviço sobre a conta, ele ganharia 5 reais por mesa, logo, 50 reais em uma hora de serviço, multiplicado por 8h do dia, 400 reais, multiplicado por 30 dias de trabalho, 12000 reais, que, de acordo com meus cálculos foi o justo cobrado aos clientes com os 10% PARA PAGAMENTO DO PESSOAL, quem, em terra de deus, ganha isso tudo como garçom?! E o patrão ainda pega a maior parte daquilo que pagamos para o garçom... – imagine o que aconteceria com o nosso Coitado, analfabeto e empregado da Postiça? Nem imagine, é antiliterario demais para se imaginar uma coisas dessas.
Bem, cheguei lá com um silencio irritante. Irritante a ponto de gargalhar e não escutar a minha própria boca. Era silencio de som. Mas o barulho era ensurdecedor. O barulho da mente daquela mulher sem atributos me esganava, me jogava contra a parede, me fazia berrar por dentro. Era agoniante vê-la chorar esganiçada, calada, apertada, moída, empurrada nun canto para que ninguém a visse chorar, mas, acontecia exatamente o contrário e eu a vida toda e completamente ali, suas esperanças escorrendo pelo chão, suas lágrimas eram ácido para aquela terra, era fogo, era brasa, nem chegava ao chão. Aqueles 11 meninos que tinha, só havia 3, muito fraquinhos e de olhos esbugalhados, que não deveriam tomar banho a dias e a remela se misturava ao choro, a fome e ao catarro. Não se sabia o que era boca e o que era nariz tamanha era a crosta que se formava ali. Os pés há tempos não tocavam o chão, quão grande era a espessa camada de carne morta (alias tudo ali é morto) que seus pés tinham desde antes de nascer. Perguntei, quando minha incredulidade, meus preconceitos, minha ânsia de profissionalismo e toda minha civilidade tornaram-se inúteis e ridículas.
- A senhora está bem? – Não me respondeu, para falar a verdade não expressou qualquer alteração de movimento. – Senhora? – repeti, talvez fosse surda. Uma das crianças me olhou e me fitou.
- Tá falando com a senhora mainha.
A mulher esbugalhou os olhos, andou em minha direção com o resto de energia que ainda não havia escorrido. Temi, enojado, que aquelas mãos podres e cheias de sujeiras iriam me tocar. Ela sentiu minha repulsa e parou.
- Falou com eu? Com eu?
- Sim, senhora, está bem? Precisa de ajuda? Posso ajuda-la? – aquela mulher não falava errado, ela falava sua língua, seu dialeto. Ali, ser alguém, é preciso ter água. ( e não conta as lágrimas...)
- ô meu deus do céu, o senhô me mandou um anjo que me olha nos olhos e me trata como gente! Brigada meu deusinho. Olhe, lhe rezo 200 ave-maria e 500 pai nosso por uma graça dessas!
- Não, desculpe, eu sou jornalista. Vim aqui para fazer uma pesquisa sobre os projetos sociais que são desenvolvidos aqui.
- que? – ia ser difícil.
- Para onde que a senhora ta indo? Se sente bem?
- Eu sei de onde eu vim, mas para onde eu vou é o senhô quem me diz. – aquela mulher tava agonizada. Definhava cada vez mais, e mais. A vi cair em minha frente, hesitar. Acelerei para ajuda-la, fazer algo por ela. Mas aquela mulher estava indo, para o local em que ela tinha de ir, perdendo-se nun ponto vago que eu, saudável e gordo, jamais entenderei.
- Não entre nessa cidade, que é cidade do cão. Se deus criou o homi, o diabo há de ter criado a alma. Não tem criatura nesse mundo mais postiça que os filhos de deus.
E foi-se. Saber o que havia acontecido com aquela mulher era simples. Sua falta de gordura e músculos mostrava que havia morrido da pior forma. Seu organismo a comeu, lentamente. Não antes de lhe comer o sonho, a esperança, a virtude e a honra. Morreu de ficar só consigo mesma, de deparar com a inutilidade de sonhar, morreu de esperar, morreu de ficar cheia de silêncio, morreu de morte forçada.
Ela não ia ser nem mais um número no noticiário das 6. Ela era adubo para aquela terra que não tinha vontade de ser terra.
Evolução da espécie não é mesmo?

Flávia Braga

Onu: Aplausos e Vaias

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A organização das Nações Unidas, criada em 1945, representa a esperança de toda uma geração traumatizada pela Segunda Guerra Mundial. Longe de ser um órgão democrático e eficaz, a ONU engloba hoje quase a totalidade - 154 dos 160 - países que compõem o cenário Mundial.
Pelo fato de contribuir com 22% do orçamento da Organização, os Estados Unidos, como exemplo, vêem investidas contra o "terrorismo" - Iraque e Afeganistão para citar os mais recentes - aceitáveis a tal ponto de ignorar as decisões do Órgão. Não apenas no campo político, a ONU é incapaz de decidir o fim dos conflitos sobre o Protocolo de Quioto ou de, até mesmo, manter sua própria estrutura. Comandada por apenas cinco países, o ideal de democracia das Nações Unidas pode ser bastante questionado.
Ainda que ineficaz, o órgão continua sendo o palco das discursões mundiais. É lá que países de menor participação têm voz e podem expôr seus ideis mesmo que sem poder de voto. Vale lembrar também a importância de projetos sociais de órgãos como a Unesco e Unicef que atuam em vários países.
Mesmo desacreditado, o sonho da paz mundial tem como seu símbolo a ONU que, apesar de seus contrastes, luta por seu ideal. É de grande importância para o futuro e sobrevivência mundial que a união dos países não fique apenas no nome.

Flávia Braga.

Sobre Educação.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Uma Reflexão sobre a educação.

Não, meus caros, não venho com uma dissertação nem índices do IBGE. Que o sistema de ensino no Brasil é falido já é mais conhecido que o fenômeno da Madonna. O que quero fazer é refletir sobre o MODO como se ensina no Brasil.
Que se tem de investir em infra-estrutura, alimentação, fardamentos, livros, remuneração de professores, qualquer pessoa sabe e vê claramente os resultados. Entretanto, nunca paramos para pensar onde casos como Isabella têm sua origem.
Estamos em um paradoxo. O nosso governo investe bilhões em educação universitária (o verdadeiro boom das faculdades particulares já começa a atrapalhar até mesmo a paciência de qualquer ser vivente...), educação básica é praticamente nulo o esforço. Sendo a infância a fase mais importante para o desenvolvimento da personalidade, valores e informações, deveria ser esta a fase de maior investimento não só por parte do governo, como da família... Por que o que vemos é exatamente o inverso. Programas como ProUni, FIES, ENEM, e tantos outros para o ingresso do jovem na universidade, e NENHUM, leu bem? NENHUM programa de financiamento ou ingresso de crianças em escolas primárias... Os pais, também em seu erro, ingressam a criança numa escola próxima de casa (mais como um hotelzinho...) de baixo valor e espera que, no terceiro ano científico, ele dobre ou triplique o tempo de trabalho para pagar cursinhos e isoladas para o seu filho passar para uma universidade pública. A base, como se pode ver, é fraca. Damos demais importância a materias exatas, como matemática, física, química (por favor que não se ofendam os cientistas...), uma gama de informações, livros, trabalhos, quando na verdade aquele jovem não entende ou não se importa com a pesquisa. Formamos advogados corruptos (lembrar que o Pai de Isabella fazia faculdade de Direito...) Médicos assassinos (O médico que matou e esquartejou sua amante – quando médicos deveriam salvar vidas...) policiais desrespeitosos (quando na verdade deveriam manter o respeito...) Políticos criminosos (quando eram eles quem deveriam fiscalizar!) e eu pergunto, essas pessoas não estudaram?! CLARO QUE SIM. Só que estudaram tudo, menos a cidadania... Matematica, física, química, biologia, geografia, história, português, inglês, espanhol, Frances... – essas são as matérias do vestibular. – Onde estar sociologia? Antropologia? Ciência política? Arte? Filosofia? Braile? Lingua dos surdos-mudos? Saúde da família? ONDE ESTÃO AS MATÉRIAS DA CIDADANIA?!
Como podemos esperar que um jovem que não é educado a pensar, a questionar, vá a ser um profissional justo e que respeite o próximo? Como colocar na constituição que somos igualitários quando nossos deficientes físicos não podem usar ônibus, quando nossos surdos não podem ver filmes nacionais no cinema, quando nossos mudos não podem perguntar no meio da rua onde que fica um banco porque ninguém entende seus gestos?! Como esperar que nossos policiais combatam o tráfico se ele não sabe o mínimo de psicologia?
Nos preocupamos tanto em formar profissionais e não formamos cidadãos!
Acredito que uma reforma radical no ensino seja uma boa solução. Até o fim do ensino médio, desenvolver no jovem o pensamento, a critica, a arte, o talento, a cidadania, e ai sim, ele estará pronto para ser um profissional justo e respeituoso. Infelizmente, vivemos em uma sociedade em que você é o seu valor de compra, e para o cartão de crédito, psicanálise talvez não pague o boleto, não é mesmo?! Porque talvez numa guerra a arte seja inútil, ou até mesmo, porque numa doença, saber que remédios podem ser encontrados em comidas esteja contrariando o cartel farmacêutico? Ou talvez porque saber de música fariam as bandas pop falirem? Ou porque saber sobre política fariam as ilhas caribenhas falirem?
Informação não é tudo. Tem de ter crítica.
Ser um cidadão é difícil.

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