Codinome Orquidea - Parte 8 (final)

quinta-feira, 19 de junho de 2008


Lucas adormecera pouco tempo depois. Patrícia o deixou sozinho no quarto para que dormisse bem. Foi até a cozinha comer algo, pois já era tarde. O Diretor também dormira, não havia o que fazer. Os livros eram quase todos proibidos, a televisão mentia, e os jogos eram feitos em dupla, e não havia com quem jogar, Patrícia era péssima.
Mas, ao abrir a porta da geladeira a procura de algo para comer, ela sentira um embrulho no estômago. Correu até o banheiro e vomitou toda a comida que tinha comido no dia.

- Ah não. – Já percebera do que o vomito significava. – Não...Não...

Limpou seu rosto, escovou os dentes. E se sentou no sofá. O que faria? Logo, a cigarra tocou e foi ver quem era.

- Olá! – Viu a mãe de Lucas entrar.
- Olá dona Maria, como vai?
- Não tão bem quanto eu gostaria que estivesse. Mas o que houve com você? Está pálida!
- Nada. Nada aconteceu.
- Como está Lucas? Melhorou?
- Ah sim, ele acordou hoje pela manhã e já tentou andar. Teimoso que só ele.
- Ah sim, muito.
- Agora ele está dormindo, mas está bem.
- Tem certeza que você está bem? – Perguntou quando viu um antienjoativo em cima da mesa.
- Sim estou. Só um pouco zonza do protesto de ontem.
- Ah, tudo bem.

Conversaram mais um pouco e Maria fora embora. Patrícia permaneceu calada o resto do dia, mesmo depois que Lucas acordara. O que faria com um bebê em seus braços, tendo que fugir? Como conseguiria dar uma vida a seu filho sendo sempre procurada do governo? Não poderia deixar isso...

- Vem cá. – Pediu Lucas assim que acordou e viu Patrícia ao seu lado. Beijaram-se.
- Como está?
- Só dói um pouco quando eu me mexo. Mas minha querida, como você está?
- Estou bem.
- Não parece.
- Só estou com dor de cabeça. Preocupada como vamos fugir daqui.
- Temos que arranjar um jeito.
- Sim temos. – Pensava no bebê.

Enquanto conversavam, a porta fora arrombada pelos policiais. Entraram com fúria dentro da casa. Cinco homens armados e vestidos de negro revistaram a casa de cabeça para baixo. Encontraram Patrícia e Lucas no quarto, eles não tiveram como fugir.

- Estão presos. Não reajam. – Patrícia viu o pai de Lucas dentre os cinco homens e seu coração disparou. Não havia para onde ir.
- Você de novo! – O pai de Lucas aproximou-se de Patrícia e lhe deu um murro no rosto que a fez cair no chão.
- Pare! – Lucas gritou na cama, mas dois dos soldados o seguravam para que não escapassem.
- Vão precisar de muita reza para saírem do quartel agora. – Falou o pai. – Levem-nos.
- Não! – Patrícia se debatia nas mãos de outros dois soldados. Mas era inútil. Olhava Lucas dentro dos olhos e chorava compulsivamente.
- Pai! Deixe-a, leve a mim! – Mesmo contundido Lucas ainda tentava livrar-se.

Qualquer tipo de pedido fora inútil. O quartel estava mais cheio que das duas vezes que Patrícia passara por ele. Havia no pátio uma enorme leva de pessoas que andavam seminuas para que fosse feita a revista. Viu, dentre eles, Carlos e Jorge o os olhou com pena.
Lucas e Patrícia foram levados para dentro do prédio principal do quartel. Colocados de frente para o outro em uma sala de interrogação. Sentiram vontade de se abraçarem, mas eram impedidos pelos policiais. Patrícia chorava, e Lucas estava sério.

- Digam onde está o Diretor do colégio Vinícius de Moraes. – Falou o mesmo General que interrogara Patrícia.
- Olá General, quanto tempo! – Exclamou Patrícia. Lucas a olhava com desespero.
- Senhora Patrícia! Como este mundo é pequeno não é mesmo?
- Muito.
- Então deve saber que o seu protegido logo será encontrado.
Silêncio.
- Sabe o Capitão Roberto? Está louco para te ver. – Exclamou, mesmo sabendo que Lucas era filho dele.
Patrícia ainda derramava lágrimas.
- Ele não vai... – Lucas tentava qualquer coisa para livrar Patrícia do que vinha na sua mente.
- O senhor fique calado! - Disse o General, dando ordens para o soldado bate-lo.
- Não! – Patrícia pedia.
- Ah... Achamos o ponto fraco da senhora Patrícia.
- Não faça nada contra ele.
- E quem determina isso? Você? Olha aqui senhora patrícia eu já fui muito tolerante com a senhora, não vou ser mais. A sua beleza encanta vários dos meus militares e sabe como é, ter carne fresca no quartel é muito difícil. Poucas são as mulheres que chegam até aqui, ou são mortas antes disso. Pode ter certeza que só está viva porque serve de diversão para meus soldados!
- Saia de perto dela! – Lucas debatia-se, e a cada vez que o fazia, o soldado o batia com mais força.
- Gostou? Quando o Capitão a comeu aqui mesmo nesta sala? Gostou? – Se esfregava nela e olhava para Lucas com ironia. Queria que ele se exaltasse e assim conseguisse a informação que ele queria. – Hoje será minha.
- Seu filho de uma puta! SAIA DE PERTO DELA! – O soldado puxou uma das mãos de Lucas e quebrou o seu dedo mindinho. Ele gritara de dor.
- Não por favor, não! Faça qualquer coisa comigo, mas não o machuque! Por favor, não!

O General roçava seu membro em Patrícia. Ela estava de pé, com algemas e não se mexia, enquanto que Lucas estava sentado e olhava tudo.

- Não faça isso! – Lucas se levantava da cadeira e mais outro soldado estava lá para bate-lo. Fora surrado duas vezes.
- Até que o Capitão tem bom gosto. A senhora tem um corpo lindo! – Falava no ouvido de Patrícia. Lucas estava incontrolado e ela não se movia de onde estava. – Tirem-no daqui.
- Não! Não!... – Debatia-se. – Me soltem! Eu não vou sair! Não toque nela seu desgraçado! Não encoste suas mãos sujas nela!
- Coloquem-no para que escute tudo na sala ao lado.

Os soldados muito dificilmente tiraram Lucas da sala onde ele, o general e Patrícia estavam. O colocaram em uma cela que ficava do lado da sala de interrogação e ele sentou-se no fundo da cela. Colocou as mãos em seus ouvidos para que não escutasse nada, mas era impossível, pois as paredes eram finas e havia pequenas janelas na barra inferior das paredes para que passasse o ar e também o som. Muitos presos eram assim interrogados, sem aproximação de soldados com presos.
Na sala de interrogação. No exato momento em que Lucas fora tirado, o general empurrou Patrícia para o chão, a deixou de frente para o teto e a olhava caída no chão. Ajoelhou-se até seu corpo.

- Tire a roupa.

Patrícia o fez, sem falar nada. Lucas era impedido de falar por um soldado que estava ao seu lado. Quando Patrícia estava nua, o general abriu seu zíper e deitou-se sobre ela. O peso de um homem adulto sobre a barriga de Patrícia a fez chorar de dor. Lucas escutava tudo do lado da sala, os gemidos de prazer do general, assim como suas ordens para Patrícia “Vire...Chupe.” Como os gritos de dores que Patrícia sentia sobre sua barriga, e sobre seus órgãos genitais que doíam com tamanha agressão.

- Já é o suficiente por hoje. Ficará nesta sala como sempre. Espero que goste de estar do lado do seu amorzinho. Ele acaba de escutar tudo. – Patrícia olhou-o perplexa. Mas virou-se assim que o general saiu. Arrastou-se pelo chão, até uma das pequenas janelas que havia na parte inferior da parede.
- Lucas... Está ai?
- Ah meu amor, eu sinto muito... Eu não pude fazer nada eu...Sou um fraco, me perdoe!
- Temos que nos proteger aqui dentro. Foi o necessário. – Suas mãos se tocavam pela pequena passagem.
- Está doendo muito? – Lucas a viu com os braços envolvendo a barriga.
- Sim. – Os rostos estavam deitados no chão, só assim era possível que se vissem.
- Olá Lucas. – Falou o seu pai na porta de sua cela. Havia mais dois policiais ao seu lado.
- O que está fazendo aqui? – Patrícia escutava tudo do outro lado.
- Diga a eles onde está o Diretor e talvez sairá daqui. Lucas é a única forma, se não disser, não poderei fazer nada por você.
- Eu não sei. – Murros.
- Ainda não sabe? Podem bater, até ele dizer.

Os soldados o bateram por muitos minutos. Sua barriga, suas costelas, seus braços, tudo havia sido espancado. Quando começou a espirrar sangue, o Capitão fora chamado mais uma vez.

- Capitão, ele não sabe de nada. Não adianta.
- Lucas...É bom falar, ou quem vai sofrer agora é ela.
- Pelo Amor de Deus! Já disse que eu não sei de nada!
- Como não?! Estavam na casa dele e não sabiam onde ele estava?!
- Ele saiu para comprar comidas que estava acabando, por Deus, eu não sei! – Lucas falava com dificuldade.
- Então quem vai sofrer agora é sua amada. Porque sei que não irá dizer nada enquanto estiverem te batendo.
- Pai! Não faça isso! Por favor, não! Não!

O Capitão deu as costas a seu filho e ordenou que os três soldados que estavam ali saíssem. Caminharam até a outra porta e entraram.

- Acho que está cansada de apanhar hoje senhora Patrícia. É bom falar.
- Eu não sei de nada.
- Soldados! – Ordenou que batessem. Patrícia levou chutes e murros. Tentava proteger sua barriga, mas era impossível. Estirada no chão, os soldados a chutavam com força.
- Parem! Por favor!
- Continuem. Patrícia onde está o Diretor? Tenho certeza que sabe.
- Eu não sei, já disse que não sei!
- Continuem!
- Não, parem! Por favor! Eu estou grávida! – Lucas escutara.
- Ora Ora...
- Por favor...Eu já disse que não sei.
- Só sairá deste quartel quando disser.

Patrícia permaneceu estirada no chão depois que os soldados saíram. Encolheu-se sobre sua barriga e não olhava para Lucas. O sangue escorria de seu nariz, de sua boca e sua barriga ainda doía.

- Patrícia... – Chamava Lucas pela brecha.
- Desculpa... – Não conseguia mover-se.
- Por que não me disse?
- Eu tive medo...
- Medo de que?
- De não poder criar meu filho.
- Deveria ter me dito...
- Desculpe...

Os dias se passavam e todos os dias sessões de tortura aconteciam. Choques, murros, pontapés, sal, banho de jato, fumaça. Tudo acontecia e os soldados não tinham a resposta que queriam. Patrícia estava sofrendo com a perda do bebê que não agüentou ao segundo dia de tortura e viu-se abortando. Passara todos os outros dias chorando.

- Vamos sair daqui. – Dizia Lucas todas as vezes que podiam se falar.
- Onde está o Diretor Lucas? Onde que ele foi parar?
- Se ele não aparecer vamos morrer aqui.

A situação no país se agravava. Todos queriam saber do que foi feito o
”Garoto do Livro”. Nos jornais nada saia, e até mesmo os próprios policiais se contradiziam.

- Eles só poderão ser soltos quando o depoimento do Diretor do colégio Vinícius de Moraes for documentado, só assim saberemos se eles foram ou não os iniciantes do protesto. – Falava um soldado em uma rede de televisão.
- Mas, e se o tal Diretor nunca aparecer?
- Eles não poderão ser soltos.
- Mas isso gerará um descontentamento muito grande na sociedade. O presidente vem tendo sua preferência despencando todas essas semanas. Se a professora de língua estrangeira e o aluno ficarem presos, vai ter uma revolução no país.
- Garantiremos o bem estar comum.

Há 564km da cidade onde Lucas e Patrícia estavam presos. Havia um posto de recarregamento de carros. Um cliente, após o recarregar seu carro, foi até a loja de conveniência para pagar. Não havia ninguém que recebesse o dinheiro e então procurou em volta. Ninguém. Tinha resolvido ir embora sem pagar. Escutou um gemido. Parou um instante para ouvir mais. Outro gemido. Viu uma brecha entre aberta de uma porta. Pegou sua câmera. Ajustou-a para gravação e então abriu.
Viu, atado à uma cadeira um senhor que aparentava ter 60 e poucos anos. E um de pé que estava batendo nele. Começou a gravar tudo.

- Você sabe em que país está Buarque?
- Já disse que não. – Respondeu secamente.

O homem continuava a gravar. E então, vendo que se tratava de algo do governo, decidiu se esconder. Esperou por muito tempo o interrogador sair. E quando saiu, entrou no recinto onde o velho estava.

- Quem é o senhor? – Perguntou tirando os cordões que o prendia na cadeira.
- Não posso dizer meu rapaz.
- Olha, meu carro foi carregado. Eu posso te tirar daqui, mas tem de ser rápido. Aquele policial vai voltar rapidamente e pode nos ver aqui.
- Por favor, faça isso.
- Pode andar?
- Posso tentar.

Mas o velho não conseguia andar. O rapaz então guardou sua câmera e levou em seus braços o velho. O colocou dentro do carro e disparou para a estrada.

- Para onde o senhor quer ir?
- Leve-me para onde estão os presos do protesto. Só quero isso.
- Então o senhor é o... – Olhou espantado.
- Sim. Preciso tirar aqueles pobres de dentro daquele quartel.
- Eu gravei tudo o que aconteceu naquele posto, podemos usar para tira-los sem que se exponha.
- Gravou? – A estrada estava livre.
- Sim. A fronteira com a Venezuela é daqui a 600km mais ou menos, podemos chegar lá e publicar de fora. Assim não vamos ser presos.
- Mas como vamos tirar os dois da cadeia?
- Confie em mim senhor, sei o que estou fazendo. Esse ditador vai cair em pouco tempo.

Pararam em um bar de estrada pouco tempo depois. Não havia nada por perto. Apenas uma senhora que estava sobre o balcão com um pano em seu ombro. E olhava a televisão enfadonha.

- Pode me preparar dois sanduíches completos e café? – Pediu o rapaz a senhora sobre o balcão.
- Claro. – Virou-se para fazer. – Que absurdo dizem na televisão não é? E ainda tem gente que acredita! Como que os comunistas vão fazer vírus sem nem ao menos ter dinheiro? São só estudantes...
- É. Um absurdo.
- Ouviu o que disseram agora? Que os dois coitados que foram presos injustamente estão mortos?!
- O que?! – O Diretor perguntou espantado.
- É, foi o que disseram. Mas, não é verdade, todo mundo sabe que eles estão vivos...
- E como a senhora sabe?
- Eles mandam cartas todas as semanas para a rádio que transmitiu o protesto. Os militantes que são burros e não entendem de códigos.
- Como assim? – Perguntou o rapaz à velha.
- Eu não sei como eles fazem, só sei que as cartas chegam à radio toda sexta feira. A gente sabe que são eles porque eles assinam.
- Eles assinam?!
- Sim. Orquídea e Lírio.
- E os militantes não vêem isso?
- Eu não sei. Acho que nem eles dois sabem que os textos estão sendo publicados. As cartas são escritas de um para o outro. Como se eles estivessem em celas distantes.
- A senhora tem alguma aí?
- Ah...Tenho sim. Estou torcendo tanto por eles. Deixe-me ver, tenho um pedaço de uma carta do Lírio para a Orquídea.
- Leia, por favor. – Pediu o Diretor.
- “Seja forte minha linda. Que ainda temos de ver o sol mais uma vez na vida. Que ainda vamos ter um filho. Vamos ainda viver em um país justo e livre. Quero que me perdoe mais uma vez por ontem, não pude impedir que meu pai fizesse aquelas atrocidades com você. Sou covarde, sou fraco. Mas vamos sair daqui.” – A senhora não conseguiu impedir que caíssem algumas lágrimas.
- Meu deus... – Exclamou o rapaz.
- Eles não sabem que está sendo publicado. – Disse o Diretor.
- E as pessoas que estão publicando não foram presas?
- Sim foram. Mas sempre tem alguém que publica. Não querem que morra esse sentimento deles.
- Temos que ajuda-los.
- Bem, está pronto. Vocês parecem famintos.
- Sim estamos. – Disse o jovem.

No quartel. Mais uma vez Patrícia e Lucas foram postos um de frente para o outro. Dentro da sala havia quatro soldados, o Capitão e o General. O semblante de cansaço e tristeza estava na cara dos dois. Patrícia olhava para Lucas com tristeza e implorava pelos olhos por um beijo. Assim estava Lucas, que além do mais, tinha ódio no seu coração e tinha vontade de matar seu próprio pai. Não agüentava mais ouvir na calada da noite Patrícia ser violentada e não poder fazer nada.

- Saibam, que vocês só não estão mortos por ordem direta do presidente. – Disse o General que sentava entre os dois.
- O que quer agora? – Perguntou Lucas.
- Estou esperando ordens vindas de cima. Enquanto isso vocês terão de ficar separados.

A televisão apresentava novamente o jornal nacional quando a sua transmissão fora interrompida. Na central de tevê, tudo passava como se a transmissão estivesse normal, mas para os civis, isso era um sinal de que algo muito importante estava para ser dito na rádio local. Logo, todos estavam desligando suas televisões e se juntavam em famílias pára escutar aquela que seria mais uma carta do casal que viraram símbolo do heroísmo nacional, um heroísmo que estava desaparecido à muitos anos e que dava a todos uma nova esperança de liberdade.

- O que houve exatamente no dia 19 de maio de 2085? – Perguntou um rapaz. Aquilo que parecia ser uma gravação.
- Eu havia saído de casa pela tarde para comprar alguma comida. Estávamos sem nada na geladeira e sem nada no armário. Sabia que a Orquídea estava grávida, acho que ela não. E sabia que precisava se alimentar bem. Estava muito preocupada com o Lírio, pois ele havia sido baleado um dia anterior pelos policiais no protesto. Havia perdido muito sangue.
- Ele ficou muito inconsciente?
- Virou a noite assim. Só acordou no outro dia.
- Mas, o que aconteceu então?
- Bem, eu saí de casa para comprar algo, porque a Orquídea tinha de ficar com o Lírio. Quando voltei, não havia ninguém mais, a casa estava revirada, os móveis todos caídos.
- E depois?
- Depois eu tentei saber o que aconteceu. Mas um soldado veio atrás de mim na minha casa, e como eu sou um velho de 60 anos, não pude resistir. E então ele me levou para um posto muito longe dali. Fui mantido prisioneiro por muitos dias.
- Mas, o governo afirma que o casal só não foi solto porque o senhor havia fugido. Então na verdade, foi seqüestrado pelos próprios policiais?
- Isso mesmo.
- O rapaz que o resgatou disse que tem um vídeo de onde o senhor estava sendo mantido em cativeiro. Vai ser mostrado na tevê?
- Veremos.

Dentro do quartel, Lucas estava em sua cela. Estava, como de costume, riscando a parede e contando a quantidade de dias que estava passando dentro da cadeia. Patrícia estava dormindo, ou pelo menos tentando. O sono era interrompido por gritos de dor que viam de outras celas. Aquela tortura já contava dois meses, parecia uma eternidade.

- Está solto Lucas. Você e sua amada só vêm trazendo problemas para o meu país. – Disse o general secamente. Em frente à porta.
- Solto? – Espantado.
- Está surdo? Saia!
- Nenhum governo sobrevive sem o apoio do seu povo não é General? – Falou em tom de deboche.

O General caminhou alguns passos até a cela de Patrícia e Lucas o acompanhava, tinha uma expressão de felicidade em seu rosto que em dois meses não se atreveu a ter. Patrícia, que havia escutado o que aconteceu na cela de Lucas, já estava prontamente levantada e esperava para ser solta. Ela havia perdido seus cabelos, sua roupa estava rasgada e suja, havia emagrecido drasticamente. Assim como Lucas, tinham escoriações pelo corpo, cortes, manchas roxas...

- Pode sair. – Disse o General.

Os dois se abraçaram no meio do corredor do presídio e se deram as mãos. Foram caminhando até o portão de saída, mas algo os entristeciam. Havia ainda muita gente ali dentro, que precisava ser solta.

- Temos que lutar por eles Lucas.
- Eles vão sair, como nós. Esse governo tem seus dias contados.
- A quem devemos agradecer isso?
- Ao povo. Sem o apoio deles não teríamos vivido.
- Ao povo.

“Uma vez o General me perguntou pelo quê que eu lutava. E eu não o respondi com clareza. Acho que agora posso dizer, Lírio, que aquilo pelo que eu luto está muito escondido dentro das pessoas, e nem elas mesmas sabem pelo que elas lutam. Meu amor, o que me alimenta estes dias é saber que você está vivo, e que vamos ver aquele pôr do sol que me prometeu. Há dois meses que eu não vejo o sol, mas quantos lá fora estão vendo? E me pergunto, será por eles que eu luto? Ou pela vontade que eu tenho de ver também?

Te amo,
Orquídea.”

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